segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Os céticos frente à bruxaria
É sintomático esse medo das elites aos possíveis efeitos da bruxaria. O fato de que no influente Grande Catecismo do jesuíta Pedro Canísio, editado no século XVI, o nome de Satã aparecer 67 vezes, bem superior às dedicadas a Jesus. Mas deve-se a essas mesmas elites porém um freio às perseguições. Montaigne nos ensaios, de 1580, já ridicularizava esse tipo de coisa e na Inglaterra observou-se um número crescente de juízes que começaram a desconsiderar as sucessivas denúncias de bruxarias que chegavam às cortes, apesar de a legislação contra aquelas práticas só ter sido revogada em 1736. A perda do medo às bruxas também pode ser creditada à crescente expansão das luzes, aos avanços da razão, da educação e da lógica científica que culminaram na máxima "se não há diabo, não há Deus."
O fim da caçada

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Cena do julgamento em Salem (1692)
Deteve-se a matança em Salem quando as denúncias envolveram figuras eminentes da colônia, tal como a esposa do governador de Massachusetts e o pastor Samuel Willard, presidente do Harvard College. Enquanto a arraia-miúda foi enclausurada, acusada de práticas escusas, poucos se indignaram. O basta naquilo tudo foi dado quando os dedos dos fanáticos ousaram apontar para a elite local. Ainda em oito de outubro de 1692, circulou uma carta redigida por um intelectual da região, Thomas Brattle, que se horrorizara com os enforcamentos, revelando a loucura coletiva que tomara conta dos aldeãos. Segundo Perry Miller, que estudou as idéias que circulavam pelas colônias americanas daquele século, a letter de Brattle teria sido o primeiro documento iluminista produzido na América do Norte, pois criticou veementemente os prejuízos do fanatismo religioso. Entre outras coisas, Battle escreveu: "temo que os anos não apagarão essa desgraça, esta nódoa que essas coisas lançaram sobre nossa terra." E os processos dos endemoniados de Salem assim como começaram, num repente terminaram.
O macartismo

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Clima de denúncias
As perseguições às bruxas de Salem serviram, dois séculos e meio depois, como tema para que o teatrólogo Arthur Miller - sofrendo as intimidações feitas pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas do senador MacCarthy -, escrevesse a peça The Crucible(traduzida por nós como As bruxas de Salem). Encenada no início dos anos de 1950, eram evidentes as analogias que Miller fez entre os padecimentos da esquerda americana na época da Guerra Fria, com os tormentos sofridos pelos injustamente acusados em Salem.
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